quarta-feira, 25 de maio de 2011

Um país chamado Lisarb

Em algum ponto do hemisfério sul existe uma ilha muito curiosa chamada Lisarb. Alguns dizem ser apenas mitológica, outros juram de pés juntos que já viram e até visitaram, mas poucos de fato conseguiram confirmar com exatidão sua localização geográfica.

Tanto faz, porque verdadeira ou não, Lisarb é uma referência quando se trata de comportamento social. Tudo se dá exatamente ao contrário do que nos outros países do mundo. Quer um exemplo? Todo cidadão lisarbiano já nasce estelionatário. Isso mesmo, basta vir ao mundo para que os sistemas legislativo e judiciário o considerem um esteliontário. Então, quando finalmente atingir a idade adulta e quiser comprar uma moto financiada, terá de assinar uma montanha de documentos para provar que não é ladrão, falsificador, sacripanta, trambiqueiro, gatuno ou coisa pior. Depois, quando quiser vender esta mesma moto terá de assinar o documento de transferência na frente de um escrivão e sua assinatura será submetida a um perito que, só depois de confirmada a autenticidade, irá carimbar o papel, atestando que o cidadão lisarbiano não é mais um estelionatário, como no dia em que nasceu. Curiosamente, mesmo com toda esta preocupação, Lisarb é um dos países campeões mundiais de roubo de carros e motos!

Outra manifestação contrária neste curioso país diz respeito aos impostos. Uma moto ou carro novíssimos, com modernos itens de segurança e perfeitamente funcionais devem pagar um imposto de circulação extremamente alto. Tão alto que até parcelam em 3 vezes. Já os veículos velhos, com 10 ou 15 anos de uso, pagam um imposto ridículo para circularem emitindo mais poluentes, som condições de segurança, e invariavelmente quebram no meio da rua, infernizando a vida dos outros cidadãos que rodam de carro novo e pagam um baita imposto.

Na administração do dinheiro público os lisarbianos são campeões. Em uma de suas maiores cidades foi construída uma avenida de 4 km, que liga nada a lugar nenhum, ao custo de 800 milhões de dólares. Ou seja, cada km custou 200 milhões de dólares. Seguramente é o km linear de avenida mais caro do planeta. E a justificativa para este investimento é a qualidade desta avenida: tem quatro faixas, é totalmente iluminada, transmite segurança aos usuários, mas a velocidade máxima permitida é de apenas 60 km/h e existem radares que flagram os motoristas que superam este limite. E se alguém perguntar qual a razão de um limite tão baixo, a resposta é igualmente curiosa: é porque os lisarbianos usam carros mal conservados.

Ainda no trânsito os lisarbianos revelam características interessantes. Os carros mais modernos são equipados com luzes de neblina na frente e atrás, uma preocupação das fábricas com a segurança dos motoristas e pedestres. No entanto, nas noites de céu claro, em ruas bem iluminadas, pode-se ver milhares de motoristas com as luzes de neblina acesas! E sabem o que eles fazem quando a condição de visibilidade cai drasticamente? Esquecem das luzes de neblina! É, ou não é, um país verdadeiramente do contra?

Fictício, ou não, Lisarb é um país de clima ameno, propício aos passeios de moto e que tem lá seu jeito muito especial de manter seus filhos presos à ele. É mais uma de suas contradições: todo mundo acha ruim, mas ninguém sai de Lisarb.

Agora que você já conheceu o significado do país no qual tudo é ao contrário, saiba que a cada dia surgem novas leis, comportamentos e manias que levam a crer que Lisarb está ficando irreconhecível. Quer uma prova? O Brasil ficou chocado com a notícia da modelo que morreu de magreza. Nem na Etiópia uma pessoa com aquele corpo seria considerada gorda, mas no mundo da moda o bonito é ser cadavérico. A mídia-num excelente exemplo de necrofilia-estampou a foto da menina nas primeiras páginas de várias publicações.

Aqui começa uma tremenda inversão de valores. A revista Veja pertence à editora Abril, que publica pelo menos uma dúzia de revistas mensais e semanais exclusivamente destinadas a cultuar a beleza. E a Veja colocou a foto da menina na capa com a chamada “A magreza que mata”. No entanto, a Abril fatura uma fortuna em revistas como Nova, Claudia, Capricho, Boa Forma, Mens Health e outras que nem lembro mais. Em TODAS essas publicações o tema principal é “emagreça, emagreça e emagreça”. Até o dia em que uma menina de 18 anos morre por excesso de emagrecimento e vira capa da Veja numa reportagem dramática. Que ironia lisarbiana: o mesmo emagrecimento que vende revistas femininas também ajuda a vender a Veja quando alguém morre… de magreza!

Voltando ao assunto que nos uniu, o motociclismo, agora parece que todo político sem uma plataforma dignificante decidiu apontar as armas em direção dos motociclistas. A idéia é a seguinte: já que estão usando as motos para cometer alguns delitos, então é melhor tratar TODOS os motociclistas como marginais. É a base do racismo: primeiro generalizar, depois segregar e finalmente identificar! Pena que os lisarbianos têm péssima memória, pois acabam votando nessa furba de anencéfalos de terno, gravata e tailler que vivem nas tetas do Estado e chafurdam no esgoto de suas representações políticas. Como é possível alguém propor uma insanidade como colar o número da placa da moto no corpo do motociclista?

Só pra dificultar a argumentação da deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), a socialite Ana Cristina Gianini Johannpeter foi assassinada por um menor-que já tinha passagem na polícia – pilotando uma bicicleta. O crime aconteceu a 150 metros de uma delegacia do Leblon, Rio de Janeiro. Como a dona Rose irá reagir? Vai recomendar o uso de um colete com o número do RG e endereço em todos os ciclistas do Rio de Janeiro? Ou vai propor uma redução dos salários, jetons e benefícios dos servirores lisarbianos para relocar a verba aos programas sociais realmente funcionais? Ou exigir do Secretário de Segurança Pública do Rio a garantia de que as pessoas sob sua guarda sobreviverão a mais um dia?

Ah, Lisarb. Uma característica interessante “deste país” (como diria Lula) é o recadastramento. Nos últimos 10 anos eu recadastrei meu título de eleitor, meu CPF, meu PIS (SUS, INSS, sei lá o nome), meu IPTU e algum outro que não lembro. Sabem por que o Brasil promove tantos recadastramentos? Porque perde o controle da corrupção! É preciso saber se os beneficiários do INSS estão vivos; quantas contas bancárias foram abertas com CPF falsos; quantos eleitores fantasmas existem e quantas casas foram construídas ilegalmente. Em suma, o Estado perde o controle da corrupção (porque quem deveria fiscalizar também é corrupto) e toma uma atitude de macho: apaga tudo e começa do zero! O recadastramento é o maior atestado de incompetência que uma administração pode passar e ninguém vem a público pedir desculpa pela falta de controle. Somos obrigados a suportar o império de burocracia e se nossa memória nos trai e esquecemos de nos recadastrar ainda pagamos MULTAS!

Agora vem a idéia super moderna de implantar chip em todos os veiculos motorizados. Isso me lembra as urnas eletrônicas. Lisarb é um dos países mais pobres e com uma das piores distribuições de renda do planeta, mas quer ser up to date em tecnologia com as urnas e agora o chip de identificação veicular. Muito moderno e eficiente, não fosse uma velha e esquecida questão chamada PRIORIDADE! Imagine se essa tecnologia moderna fosse empregada, por exemplo, para reduzir ao menos um pouquinho a corrupção cometida dentro da administração pública! Sim, porque no dia seguinte à implantação do chip vários camelôs da rua Santa Ifigênia – reduto de contrabandistas de SP – venderão chips com qualquer informação.

Então temos de um lado a completa incapacidade de controlar a corrupção. De outro a necessidade de “aparecer” diante da comunidade internacional com soluções modernosas como urna eletrônica e chip. Uma boa idéia seria juntar essas duas necessidades com a criação de um chip de identificação de corrupto. Já pensou? Uau! Desde o cara que leva uma caneta esferográfica da repartição pública pra casa, até lobistas que recebem “gratificações” por um mega contrato de fornecimento de produtos e serviços ao Estado. O chip identificaria o corrupto (ou corruptor) e apareceria seu nome em um enorme painel colocado em Brasília.

Mesmo em um país de piada pronta como Lisarb esse tipo de anedota já perdeu a graça. Cada vez mais acredito que a principal função de uma deputada como essa Rose é desviar a atenção dos assuntos realmente sérios. Enquanto gastam-se tempo e dinheiro para tramitar um projeto ridículo como esse, nos porões de cada representação política os ratos engravatados e de tailler investem tempo e esforço mental para descobrir uma forma de aumentar seus vencimentos, trabalhar menos e se aposentar mais cedo.

Políticos de Lisarb são lutadores sim. Lutam para conseguir o poder. Não é pelo ou para o povo, mas exclusivamente pelo poder. De um simples vereador ao presidente todos almejam o poder. A sensação de poder corrompe, excita, libera endorfinas e vicia. Por isso, no dia seguinte à posse, a preocupação número um das roses neste jardim de lama é uma só: como conseguir se reeleger para prolongar a agradável sensação de poder por oito anos.

Lisarb está ficando tão absurdamente de ponta cabeça, numa inversão de valores sem comparação no mundo, que uma hora destas vai voltar a ser Brasil.

Valeu, Rúbia, pelo texto acima...

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